quinta-feira, 16 de abril de 2020

Louise Michele - E as bengaladas do Manuel Joaquim

A Louise Michel era marselhesa mas foi cedo para Paris. Professora, poetisa, enfermeira, escritora e revolucionária. Dirigiu importantes sectores durante a Comuna de Paris. Primeiro como enfermeira, depois como coordenadora do sector da propaganda e nos ultimos dias, de armas na mão defendendo e resistindo pela Comuna Preocupada com a educação infantil, a Louise Michel ainda chegou a ser professora. Aos 26 anos tinha escrito e publicado vários livros relacionados com educação e mudança social. Quando a comuna é esmagada, os algozes fazem da Louise Michele um exemplo, e da farsa do seu julgamento uma enormidade de propaganda anti-comunista. Por pouco escapa à pena de morte e vai deportada durante várias decadas para a Nova Caledonia. Por cá, o Pinheiro Chagas, esse que dá o nome à rua, era um importante deputado nas Cortes. Um homem de referencia nacional, daqueles senhores muito importantes que arrotava coisas muito inteligentes que logo eram repetidas por jornalistas igualmente inteligentes e importantes, amigos e seguidores. Coisas de um passado remoto, de uma democracia de faz de conta, longe da realidade dos dias de hoje neste pais moderno e desenvolvido. Este Pinheiro Chagas, com o seu bigodinho revirado e as suas lunetas de intelectual foi um verdadeiro defensor do desenvolvimento económico, progresso esclarecido e um feroz opositor contra a desordem e o caos revolucionários da Comuna. Quando chegaram as noticias da comuna de Paris, os jornais da época davam mais ênfase ao escândalo de haver mulheres entre as revoltosas, do que às razões da própria revolta. Sobre a Louise Michel, alarve e babão, o respeitado e reputado deputado disse logo: " Se fosse cá em Portugal, não tinha havido tanta desordem, porque em Lisboa, há um Manuel Joaquim Pinheiro Chagas, que é suficientemente homem, para pegar na Louise Michel, lhe levantar as saias lhe dar uns belos açoites nas nádegas, à boa e antiga portuguesa! Para lhe corrigir os excessos e disciplinar-lhe as politicas!" Naquele tempo, os jornalistas gostavam de fazer ecoar frases assim retumbantes de pessoas importantes e depressa publicaram em todos os jornais, que eram dois ou três, as alarvidades do Pinheiro Chagas. Outros tempos. Quem não gostou do que leu foi um outro Manuel Joaquim, de sobrenome Pinto, professor primário e solidário com a comuna de Paris, que dava aulas no “ensino livre” na Promotora, em Alcântara, que era na altura o bairro mais operário de Lisboa. O professor, que até era um homem cordato, escreveu um artigo num jornal de operários “a Revolução Social” a desancar no Chagas. Nada de exageros, simplesmente lhe chamou estúpido e buçal. Os jornalistas amigos do Pinheiro Chagas foram a correr mostrar-lhe o artigo no "Revolução Social". O deputado sentiu-se ofendido e num outro artigo pediu publicamente, explicações ao professor. O Pinto de Alcântara, farto de ler jornais e de artigos para cá e para lá, não se fez esperar, foi até São Bento onde o deputado trabalhava e deu-lhe as explicações solicitadas com uma bengalinha pelos cornos. Foi um escândalo para a Lisboa de então as bengaladas no Pinheiro Chagas.... O professor de Alcântara, pagou uma multa e ainda passou um ano e meio preso por causa dessa explicação que foi dar ao deputado... Mas ao Pinheiro Chagas, as bengaladas que levou, essas ninguém lhas conseguiu tirar de cima.