segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Minas de ouro no quintal


Viveu os primeiros anos de infância uma barraca emprestada à mãe, no fundo do quintal nas traseiras de um bar que atendia camionistas. 

Quando tinha 8 anos, foi violada.  O violador, que também era namorado da mãe, exigiu o silêncio de Marguerite. Avisou-a: se falares mato-te a ti e mato a tua mãe. A menina ficou calada. Muda durante sete anos. 

Nos subúrbios de St Louis no Missouri nos anos trinta do século XX uma menina negra e muda não tinha grandes prespectivas. Com a ajuda de um a vizinha, aprendeu a ler. Como não estava disponível para conversas leu durante sete anos.

Depois voltou a falar. E falava muito e bonito. De uma eloquência que todos paravam agora a ouvir. Foi para São Francisco.

Ainda aos quinze anos tirou a carta de condução e tornou-se motorista de autocarros. Aos dezassete foi mãe.

Bonita e grande enchia com a sua graça, inteligência e exuberância os lugares onde estava. 

De São Francisco foi para Hollywood, onde ganhou a vida como actriz e bailarina. No final da segunda guerra Mundial assumiu o nome de Maya Angelou. Deu o calipso a conhecer aos americanos e começou a escrever para teatro e depois cinema. Correu os estados unidos de norte a sul com a sua companhia de teatro de variedades. 

A viu e viveu tantas e repetidas vezes situações de injustiças, de racismo e de segregação que acabou por se envolver na luta pelos direitos civis nos estados unidos. Conheceu Luther King, conviveu e foi amiga de Malcom X. 

Farta de ver a história parada, no final dos anos sessenta, foi para África ver a história acontecer. Primeiro  Acra no Gana onde foi jornalista e escritora  depois para o Egito de Nasser. Com amigos e camaradas sul-africanos, envolve-se no movimento de combate ao apartheid. 

Em 1970 pública o primeiro livro de poesia.

Desde aí nunca mais parou de escrever. Teatro, ensaio, poesia, contos.

Cantou e disse poesia em tomadas de posse de presidentes com o mesmo amor com que o fazia em associações de apoio a sem-abrigos.

Morreu em 2014.

Viveu, publicou livros e ensinou até aos 86 anos.

Escreveu isto:

" A minha altivez ofende-te?

Não leves isso tão a mal,
Porque eu rio como se eu tivesse
Minas de ouro no meu quintal."

E tinha. Tinha. Mas é que tinha mesmo.